segunda-feira, 15 de maio de 2017

DAVID CARNEIRO, TAMBÉM EXIBIDOR

David Carneiro também exibidor
David Antônio da Silva Carneiro (Curitiba 1904 – 1990) foi historiador, escritor, ensaísta, pesquisador, museólogo, colecionador e professor universitário. Um lado pouco mencionado era o de um cinéfilo apaixonado e empresário cinematográfico. O que motivou sua entrada neste segmento foi a construção de um “arranha-céu” de seis andares, como eram chamados os edifícios na segunda metade dos anos 30, quase em frente ao Palácio Avenida, ao lado do hoje edifício Tijucas. Destinado a ser residencial, foi ocupado por famílias amigas ou escolhidas, e o último andar, como sua ampla residência, provavelmente o primeiro duplex da cidade de Curitiba. O nome do edifício “Heloisa” foi em homenagem a sua primeira filha, falecida prematuramente em razão de uma doença crônica.
                                              CINE ÓPERA MEADOS DE 1950
Carneiro resolveu ocupar o imenso miolo da quadra construindo um cinema, com a entrada pelo térreo do edifício. Investiu num jovem de Paranaguá, Leôncio Aranoski (1915 – 1968), que queria entrar no ramo da exibição cinematográfica, para construir um enorme e luxuoso cinema, porém, em plena guerra, com todas as dificuldades que a época acarretava, como a falta e o atraso na entrega de materiais.
                                                            CINE VITÓRIA HOJE!
                                               CINE VITÓRIA AINDA CINEMA!
Apesar dos percalços enfrentados, o cine Ópera foi inaugurado em 16 de junho de 1941, os jornais alardeando uma realização brilhante do jovem Leôncio com sua arquitetura, modernos projetores americanos e sistema de som de altíssima qualidade, 2.400 poltronas em três plateias, sendo a última a “geral” com preços menores, como era comum na época. O filme escolhido: “Tudo isto e o céu também” (All this and heaven too), produção da Warner de 1940 com Bette Davis, Charles Boyer, direção de Anatole Litvak, música de Max Steiner, indicado ao “Oscar” de melhor filme.
Outro fato que causou interesse, ressaltando seu requinte, é que o cine Ópera rompeu o costume de os cinemas colocarem nas cortinas que cobriam as telas anúncios publicitários. Tinha uma linda cortina de veludo vermelho bordada com fios dourados na base que refletiam as luzes da boca do palco, executada com esmero pela esposa do construtor, senhora Renata. Os frequentadores chegavam bem antes das sessões para apreciar a cortina, a decoração e ouvir música. Mas com os inúmeros problemas acarretados no empreendimento, mais a inexperiência do Sr. Leôncio em negociações com as distribuidoras de filmes, acumulou-se dívidas, o que o levou a entregar o cinema ao professor David, apesar do contrato de exploração por vinte anos, e se retirar para Ponta Grossa.

Inauguração do cine Marajó, 1959. Em primeiro plano, à esquerda: Waldomiro Jensen, responsável técnico e montagem dos equipamentos cinematográficos da empresa e gerente do cine Ópera; 2º Sr. Lessa vice-gerente do Cine Ópera, 3º Antônio Morilha do cine Curitiba e Ismail Macedo.

O professor então constituiu a Empresa Cinematográfica David Carneiro, e entregou a administração do cinema a um jovem contador de suas empresas o castrense Ismail Macedo (1918 – 2008). Dinâmico e empreendedor, tomou gosto pela coisa. Introduziu um festival de filmes inéditos, um por dia durante uma semana, que só teriam lançamento depois, abarrotando o cinema em sessões concorridíssimas; lançou as matinadas com sessões aos domingos pela manhã, com desenhos e filmes infantis, que ficaram famosas pelos desenhos do “Tom e Jerry”; também inovou ao contratar mulher para a bilheteria, já que nesta época só homens trabalhavam nos cinemas. Mesmo não tendo sido projetado como cineteatro, em seu pequeno palco aconteceram recitais como o do tenor Beniamino Gigli, eventos como o I Festival de Cinema de Curitiba e edições do “Tribunascope de Ouro”, organizadas por Júlio Neto, João Feder e Henrique Lemanski do jornal “Tribuna do Paraná”.
Em 1949, o professor David Carneiro se mudou para a residência construída na rua Brigadeiro Franco, com os fundos para o seu museu na Comendador Araújo. O edifício Heloisa aos poucos foi se tornando comercial.
No início dos anos 50, Ismail Macedo constituiu a Orcopa, Organização Comercial Paraná e Santa Catarina com dois filhos de Davi Carneiro como sócios, e deslanchou a empresa exibidora, inaugurando diversos cinemas, tendo o professor deixado o negócio de exibição cinematográfica. Iniciou com o cine Arlequim em 1955, no Largo Frederico Faria de Oliveira, nos fundos do Ópera, ainda em terreno do professor David Carneiro. No mesmo ano a Orcopa começou a investir em bons cinemas de bairro: o Cine Guarani, pouco antes da igreja do bairro Portão na República Argentina; 1956 o Flórida na Marechal Floriano; 1959 o Marajó na avenida N. Sra. Aparecida no Seminário; o Oásis, av. Marechal Floriano no Hauer em 1960. Neste mesmo ano inaugurou em setembro o São João, na Des. Westphalen, em terreno da família Bettega, lançando muitas super-produções. jensen-5
Tornou-se um cinema de grande afluência de público. Em 1963, inaugurou com a família Johnscher, o cine-teatro Vitória, na rua Barão do Rio Branco, 1800 poltronas. O filme de inauguração: “Taras Bulba” com Tony Curtis, Yul Brynner, direção de J. Lee Thompson, produção de 1962 da United Artists. Sediou formaturas, concertos e em abril de 64, recebeu uma edição do “Tribunascope”, com as presenças de Janet Leigh, Antony Perkins, Karl Malden, dos brasileiros Jece Valadão e Vanja Orico, que deixaram no cimento suas mãos, tal como na calçada da fama em Hollywood (o Vitória encerrou suas atividades como cinema em janeiro de 1984, para dar lugar ao Centro de Convenções de Curitiba, após acréscimo de uma construção em sua frente, tornando-se patrimônio público). Finalmente, em dezembro de 1964 Ismail inaugurou o cine Plaza, 1200 lugares, na praça Osório, no terreno da Associação dos Servidores Públicos do Paraná – ASPP, com outros sócios. O filme de abertura: “Moscou contra 007” (From Russia with love) com Sean Connery, Robert Shaw, Lotte Lennya, direção de Terence Young, distribuição United Artists de 1963. Depois de diversas administrações, o Plaza sediou ainda o Festival de cinema de Curitiba em 2005 com sessões lotadas. Foi o último cinema de rua comercial a fechar suas portas em 2006, vendido ao Grupo Positivo que o demoliu, apesar de ter sido considerado um “bem de entorno”.
                                                                    1941
                                                           ISMAIL MACEDO
Breve biografia de Ismail Macedo
Nasceu em Castro no dia 17 de setembro de 1918, sendo filho de Antônio Dias de Macedo e Rosália Pereira Macedo.Casou-se com a Senhora Avany Silka de Macedo, com a qual teve os seguintes filhos: Ciro Percival de Macedo, Beatriz Macedo Vialle, Berenice de Macedo Souza e Júlio César Macedo. Cursou o Colégio São José e o Grupo Escolar Dr. Vicente Machado, nesta cidade de Castro, posteriormente o Grupo Anexo, a Escola Normal e a Academia de Comércio em Curitiba. Formou-se Contador na Faculdade de Ciências Econômicas do Paraná e Academia Paranaense de Comércio, em 23 de dezembro de 1.940. Em 1953, deixou a profissão de contador e passou a ser sócio da empresa Cinematográfica David Carneiro Ltda, tendo recebido o convite pessoalmente do Dr. David Carneiro. Passou a administrar uma empresa com 5 (cinco) cinemas na capital paranaense. Atuou ainda na Agroindústria, com outros sócios em uma área de 1000 alqueires de terras localizadas no Distrito de Abapan. Foi um dos fundadores do Sindicato de Empresas de Cinema do Paraná o qual em pouco tempo foi elevado para o Estado de Santa Catarina, presidindo-o por 17 anos. Foi também um dos responsáveis pela fundação da Federação Nacional dos Exibidores Cinematográficos, da qual foi Diretor Tesoureiro em duas gestões. Foi nomeado vogal da Junta Comercial do Estado do Paraná. Foi Presidente do Centro Castrense de Curitiba. Pertenceu ainda ao Lions Clube de Curitiba, Centro do qual foi Presidente.
Ismail Macedo fundou em 1965, o Sindicato dos exibidores do Paraná e Santa Catarina, foi seu primeiro presidente, além de outros investimentos. Atuou fortemente na cinematografia curitibana e paranaense por quase vinte anos.
Texto de José Augusto Jensen, fotografias também do autor. Publicado na revista Idéias do mês de maio de 2017!


segunda-feira, 29 de agosto de 2016




The King of Kings (Rei dos Reis) – 1927
05/04/2015 Waldemar Dalenogare
No começo da década de 1920, o lendário Cecil B. DeMille apresentou aos seus colegas um ambicioso plano de fazer a película definitiva sobre a vida de Jesus. Com a ajuda de Jeanie Macpherson, DeMille montou aos poucos um roteiro baseado em passagens bíblicas em um trabalho que demorou sete anos para ser concluído. The King of Kings (Rei dos Reis, no Brasil) é uma das mais bonitas dramatizações sobre os dias finais de Cristo e se tornou um clássico que começou a ser relembrado com os vários lançamentos em home video.
Ao contrário das interpretações atuais de Jesus, DeMille optou por levar ao cinema um Cristo bastante leve e tranquilo. Até mesmo na cena em que Jesus expulsa os vendedores do templo existe uma boa dose de calma. Em todas as cenas escuras, a figura de Jesus é aquela que brilha, a que sempre se destaca. Apesar da vontade de filmar todo o longa a cores, apenas a introdução e a conclusão foram filmadas no método de duas cores da Technicolor (estima-se que o custo total para produzir The King of Kings a cores exigiria um retorno de bilheteria de três milhões de dólares, três vezes mais do arrecadado).
Durante a produção, Cecil B. DeMille exigiu da sua equipe dedicação total: orações diárias eram feitas antes e depois das filmagens, e o diretor desembolsou muito dinheiro para garantir que H.B. Warner (Jesus) e Dorothy Cumming (Maria) não aparecessem em público por cinco anos em atividades que poderiam comprometer suas imagens, reforçando toda a tentativa de tornar os dois como os rostos definitivos de seus personagens no cinema. Entre as várias fofocas de Hollywood deste período, conta-se também que uma mulher apareceu no set de filmagens e exigiu dinheiro para evitar expor segredos íntimos de Warner, o que comprometeria toda a produção. DeMille, observando o risco de ver seu épico afundar antes mesmo do lançamento, aceitou dar dinheiro a esta pessoa com a condição de que ela deixasse os EUA e começasse uma nova vida na Europa.
Dentre as várias opções no mercado, considero a versão da Criterion como a definitiva: além do DVD trazer uma restauração impecável, temos bons materiais extras, como um breve making of da produção (algo bastante raro de se encontrar em filmes deste período). As trilhas de Donald Sosin (lançada na versão original de 1927), de Timothy J. Tikker (1931) e Hugo Riesenfeld (1931) mostram a importância da música e da banda sonora para a construção de um grande clímax, já que cada um dos compositores optou por tomar diferentes rumos até a ressurreição. Clássico indispensável para os fãs de filmes épicos, The King of Kings foi o primeiro longa a ser exibido no famoso Grauman’s Chinese Theater, onde foi aplaudido de pé. Além disso, foi o primeiro filme a marcar parâmetros de comparação sobre cenas do Novo Testamento, graças a um gigantesco elenco de apoio e um alto investimento nos cenários. Bem menos polêmico que The Ten Commandments (1923), DeMille completaria sua trilogia bíblica com The Sign of the Cross (1932).



Como eram os matinês na sexta-feira santa, no Cine Guarani: 


As primeiras vezes que o filme “PAIXÃO DE CRISTO” (nome em português) foi exibido nas sextas-feiras santa,em Curitiba, foram um verdadeiro Deus nos acuda! Pois se formavam imensas filas, que eram guardadas por longas cordas. Que eram amarradas na porta de entrada do cinema e seguras por guardas-civis e por funcionários do cinema, inclusive eu segurei a dita corda por diversos anos. E o grande problema desta exibição era que só havia uma cópia do filme.
O filme originalmente era mudo e em branco e preto, que foi posteriormente narrado em português, dirigido por Cecil B.de Mille denominado “King of Kings” de 1927. E sei que a referida cópia era de propriedade do Antoninho Morilha, dono do Cine Curitiba. E passava simultaneamente em cinco cinemas, um no centro da cidade; o Cine Curitiba, outro no bairro Parolim; Cine Flórida, na R. Mal. Floriano Peixoto 1828, Cine Oásis na Vila Hauer, mais o Cine Marajó no Seminário, e por último no bairro do Portão o Cine Guarani. E quem transportava as partes do filme era o Ismail Macedo, com seu possante automóvel Ford ano 1937. Os horários das sessões eram diferente em cada um dos cinemas, para dar tempo ao transporte das partes da fita entre os cinemas. Aqui um fato pitoresco tanto o Morilha como o Manassés dono do Cine Oásis, eram funcionários da RVPSC, Rede Ferroviária Federal como meu pai!

sábado, 7 de maio de 2016

Cabine de projeção do Cine Ópera!

Nessa fotografia, tirada do interior da cabine de projeção do Cine Ópera, em Curitiba, aparecem João Caputo, operador de projetor, Waldomiro Jensen, gerente e técnico eletrônico, responsável pela parte técnica dos projetores e do sistema de som dos cinemas do grupo David Carneiro, a terceira pessoa que aparece na foto, infelizmente não está identificado, era o auxiliar do João Caputo! Após o falecimento de Waldomiro, o João passou a ser o técnico responsável, acumulando a função de gerente do Cine Guarani!
Também aparece um dos três projetores do Cine Ópera!

sábado, 9 de abril de 2016

Como era o Bairro do Portão, ano de 1968!


Imagem externa do Cine Guarani! Foto de 1968.

 Localizado à Avenida República Argentina, Portão! Defronte a Rua Engenheiro Niepce da Silva! Fotografia tirada em 1968!

sábado, 19 de outubro de 2013

O Apaixonado pela arte cinematografica!

Henrique de Oliveira Jr. (Valinhos SP 1920). Fotógrafo, técnico de cinema, diretor de filmes e agitador cultural. Começa a fotografar aos 8 anos. Aos 12, emprega-se como ajudante num laboratório dentário; com a experiência, torna-se protético. Autodidata, projeta e constrói um projetor 35 mm e câmeras de diversas bitolas. Torna-se, na década de 40, funcionário da Prefeitura de Campinas, onde cria o Serviço de Cinema Educativo, com sessões de cinema para crianças e adultos, no Teatro Municipal e em bairros, iniciativa pioneira na descentralização da cultura da cidade. Como fotógrafo da prefeitura, registra várias passagens da vida da cidade durante as décadas de 50, 60 e 70. Dirige seu primeiro filme, Lição Merecida (16mm), em 1952. Participa da criação do Foto-Cine-Clube de Campinas (1955), com um grupo de amigos que buscava incentivar e divulgar a produção fotográfica amadora na cidade. Junto à entidade, que dirige em 1962 e 63, ministra cursos, participa de salões, de exposições e de júri. Atua como cinegrafista, montador e sonorizador de filmes realizados no Cine-Clube Universitário de Campinas, em 1966 e 67. Com os artistas plásticos Bernardo Caro e Berenice Toledo, realiza o projeto Tabela/Arqueologia do Urbano, apresentado na XIV Bienal Internacional de São Paulo (1977). Aposenta-se pela prefeitura em 1979, como coordenador do Museu da Imagem e do Som, órgão que idealiza através da transformação dos antigos Serviço de Cinema Educativo e Serviço de Imagem e Som. Membro e diretor do Departamento de Cinema do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, participa da organização de 10 festivais de super-8 na cidade, na década de 80. Realiza alguns filmes nesta bitola. Por seu esforço pessoal, é responsável direto pela preservação da maioria das imagens remanescentes dos primeiros anos do cinema em Campinas, ainda no período silencioso, cujos protagonistas chega a conhecer pessoalmente. Com o tempo, especializa-se em diversas vertentes da técnica cinematográfica, como fotografia, microfilmagem, montagem, dublagem, mixagem e processos laboratoriais. Seus filmes receberam diversos prêmios em festivais brasileiros e internacionais. Tabela, por exemplo, foi premiado na 1ª Mostra do Filme Super 8 de Buenos Aires (1977) e no Festival Internacional das Ilhas Canárias (1980). Realiza diversas exposições sobre seu trabalho fotográfico, ao qual ainda hoje se dedica.
Filmografia:

1952 - Lição Merecida
1969 - Ser
1977 - Tabela (com Berenice Toledo, Bernardo Caro e Marcos A. Craveiro)
1978 - Sempre (com Berenice Toledo e Bernardo Caro)
1980 - Bailado
Dados extraídos do site www.itaucultural.org.br/arlicexternas/enciclopedia

quinta-feira, 1 de março de 2012

Moroscope, o cinemascope tupiniquim!



Professor Leonel Moro, inventor do Moroscope. Semanalmente vinha a RECEP – Escolas Radiofônicas para apresentar o seu programa sobre Astronomia, ficamos amigos e ele na época estava filmando o seu longa metragem e sempre dizia a todos que a sonorização do filme seria por mim realizado, infelizmente por motivos alheios as nossas vontades não efetuei esta sonorização, apesar do fracasso na exibição do referido filme, com certeza iria enriquecer o meu currículo profissional.
Preocupado com a concorrência da televisão, o cinema americano desenterra as lentes anamórficas e cria o processo Cinemascope, nos anos cinquenta.
Leonel Moro, professor de astronomia da UFPR, pesquisa as lentes anamórficas e desenvolve um processo que chamou de Moroscope, utilizando-o em uma série de curtas-metragens sendo um de ficção “Um Soneto" de 1962 e, em 1969, um longa metragem "O Circulo Perfeito", uma história policial que teve apenas uma exibição pública. Eu tive a oportunidade de assistir a este filme, aqui no Cine Guarani do Portão, em uma sessão especial de revisão deste filme.
No necrológio do professor Leonel Moro, falecido 09 de dezembro de 1984 domingo, aos 65 anos, faltou um destaque merecido: a sua atividade como cineasta. Nos anos 50, Leonel desenvolveu um processo de lente anamórfica, que batizou com o nome de "Moroscope" (na época, em que o CinemaScope era a grande novidade) e através desta técnica realizou alguns documentários e uma longa-metragem. "O Círculo Perfeito". Filme policial, com vários artistas paranaenses, seu longa-metragem levou mais de 8 anos para ser concluído e, quando lançado, no cine Rivoli, não teve a acolhida merecida. Desiludido com o cinema, Leonel se voltou à física e astronomia e acabou doando os negativos e cópias de seus filmes à Cinemateca do Museu Guido Viaro. Cabe agora a Cinemateca fazer alguma sessão em homenagem a Leonel Moro, exibindo seus filmes. Além dos méritos de pioneirismo, "O Círculo Perfeito" tem outro significado: um dos atores era Chic-Chic (Otelo Queirolo), o grande palhaço que viveu mais de 50 anos em Curitiba. As únicas imagens animadas de Chic-Chic estão neste filme - que mereceria ser recuperado integralmente.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Galeria dos frequentadores!


“Aos domingos na matinê sempre levava os dois filhos homens e assistia a todos os filmes. Na sessão da noite levava a esposa e filhas, não perdia uma semana sequer!”





João Baptista Bettega Fontana, mais conhecido como:

Nino Fontana, nasceu em Piraquara em 09 de junho de 1908, o mais velho de 6 irmãos, estudou no internato Paranaense, formou-se em Ciências Contábeis.
Junto com seu pai fundou a Fontana e Cia Ltda., empresa madeireira na região da Lapa e Cerro Verde do Paraná.
Em 1948 fundou a Auto Mecânica São José (a atual Rex Pneus), um centro de serviço para caminhões, que incluía posto de combustível, oficina mecânica, serviços de reformas e concertos de pneus, reparos de estofamentos. A Rex Pneus continua atuando no mercado de reforma de caminhões e máquinas até hoje, sendo a primeira empresa paranaense do ramo a conquistar a certificação ISO 9001-2000. A Rex Pneus emprega hoje 60 pessoas:
Trouxe a marca de refrigerante Crush para o Paraná e Santa Catarina, engarrafando e distribuindo este refrigerante para os dois estados;
Em 1961, nasce a empresa que hoje é a Tortuga Produtos de Borracha Ltda., atual fabricante de câmaras de ar para toda a linha de pneus (desde pneus de carrinhos de mão até pneus de colheitadeiras e tratores). A Tortuga é hoje a maior empresa brasileira no ramo de câmaras de ar, empregando 600 pessoas.
Fundador das Lojas Bettega;
Foi sócio de diversas salas de projeções, como: Cine Ópera, Cine Vitória, Cine São João, Arlequim, Guarani e Cine Marajó;
Foi vice-presidente da FIEP - Federação das Indústrias do Estado do Paraná;
Foi diretor da Associação Comercial do Paraná;
Participante ativo de associações e entidades, tais como Lions Club;
Recebeu diversas condecorações, entre elas da CNI - Confederação Nacional da Indústria e do Governo Italiano "Título de Cavalieri";
Casou-se em 1927 com Elvira Zagonel Fontana, tendo duas filhas - Angelina Fontana Scarpin e Rosa Maria Fontana Mohr;
Após ficar viúvo, casou-se novamente em 1943 com Avany Buzetti Fontana, tendo 4 filhos -João Cláudio Fontana, Nina Maria Fontana, Arnaldo Fontana e Leonor Fontana Piazza, os dois últimos já falecidos.
No final da década de 80 passou a direção das suas empresas para seus filhos João Cláudio e Nina, porém permaneceu visitando as fábricas e conversando diariamente com os funcionários de todos os setores, prática esta que manteve até seus últimos dias de vida;
Deixa 13 netos e 14 bisnetos;
Faleceu aos 96 anos de idade no dia 03 de maio de 2.005.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Cauby Peixoto cantando no Cine Guarani!

BREVE!

CAUBY PEIXOTO!

Cantando no Cine Guarani!

Pelo menos com uns três meses de antecedência, um cartaz semelhante a este ficou exposto no hall do nosso cinema de bairro. Até que finalmente a noite do show chegou! O Cinema lotado, todos ansiosos para ver o maior cantor da música popular brasileira daquela época. À hora chegou, apagam-se as luzes, a cortina entreabre-se, um facho de luz se acende, eis que surge o grande Cauby, recebido com um ensurdecedor bater de palmas, agradece ao público, o som de uma de suas músicas inicia e ele começa a cantar. Cantou pelo menos por 60 minutos. A cada música cantada recebia calorosa salva de palmas. Lá pela metade da apresentação, um grupo de meninas moradoras do bairro, todas de vestidos branco trazendo nos braços um buquê de rosas, subiram ao palco e fizeram a entrega ao cantor, que recebeu e agradeceu a todas. Entre a multidão que assistia ao show, lá estávamos, mamãe, meu pai e eu. Foi inesquecível. Logo após a esta apresentação partiu para uma longa temporada nos Estados Unidos.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Ivan Taborda!

O Ivan Taborda eu o conheci a muitos anos atrás, na juventude, eu morava no bairro do Portão, e lá inaugurou um cinema que era de propriedade de David Carneiro e Ismail Macedo, Cine Guarani, Ivan era operador de projetor, lembro como ele chegava pelas manhãs para revisar as fitas que seriam projetadas a noite, lá vinha ele de bombacha chapéu típico gaúcho. camisa xadrez e montado em seu pingo, só que não era um cavalo, era a sua bicicleta. Sempre muito animado e bem disposto.
Saudades, daquele tempo que não volta mais.
Abraços

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Trio Los Panchos

Revendo no “You Tube” cantores que marcaram a minha juventude, encontrei diversos trechos de filmes com o Trio Los Panchos cantando, era um trio mexicano que fez muito sucesso aqui no Brasil nos anos 1950 a 1960. E conforme eu ia revendo eles cantarem comecei a relembrar quando eles estiveram no Cine Guarani para uma única apresentação, cantaram por mais de uma hora, todos os principais sucessos daquela época, como: Sabor a mi; A capela; Me duele amarte; perdida; Nuestro amor; Se vive uma vez; Tu me acostumbraste; La malagueña; Contigo; Ya es muy tarde; Estrellita; Sin ti; La nave del olvido; Caminos diferentes; Nada; Flor de Azálea; Cuando calienta el sol e muitas outras.

sábado, 30 de maio de 2009

Layout Cine Guarani internamente



O som em 3 canais mais o surround dos filmes em CinemaScope. (canal esquerdo, direito e surround magnéticos e o canal central com som ótico). Isso existiu?
Sim, mas só nos grandes cinemas, como os cines Avenida e Vitória e talvez mais alguns. O restante era só com som elétro-ótico de baixa fidelidade. E todos eles com tela grande, e com instalações inadequadas. Como por exemplo, erro no ângulo de inclinação do projetor para com o ângulo de inclinação da tela no sentido vertical, praticamente todas ficavam aprumada a 90° formando um ângulo reto. E o projetor sempre instalado obrigatoriamente em uma posição inclinada, ocasionando uma projeção fora de foco, alguns na parte superior, outros na parte inferior da tela, dependendo do ajuste de foco dado. Outro erro grave, todas as telas eram presas em estruturas retas no sentido horizontal, sem curvatura para corrigir o problema inerente às lentes anamórficas, que é a deformação da imagem nas extremidades da tela. Sendo que Miro desconhecia muitos pormenores do Cinemascope, como por exemplo, a necessidade da curvatura da tela e do paralelismo entre projetor e tela. Lembro um bate papo entre nós dois sobre a curvatura das telas. Eu contei a ele que em 1954 fui a São Paulo e fui ao Cine República, e assisti o “Príncipe Valente”, com Robert Wagner e Vivian Ligh um dos primeiros filmes do ator. E um dos primeiros do Brasil a projetar filmes em Cinemascope e que a sua tela era curva no sentido horizontal. E inclinada no sentido vertical formando um ângulo reto com o projetor, fatos que ele não deu a mínima importância. Sobre a inclinação da tela, creio que ele não quis dar o braço a torcer; e quanto à curvatura da mesma, ele se saiu com essa ideia. Que para isso seria necessário criar uma janela de obturador especial; (Que consiste numa peça com uma abertura do tamanho do quadro do filme por onde incide a luz que é refletida pelo espelho e concentrada pelas lentes condensadoras, e munida de dobradiça para permitir o posicionamento do filme, para finalmente a luz projetada alcançar às objetivas do projetor.) Com o mesmo grau da curvatura da tela, provando as minhas afirmações acima. Graças à internet, hoje tudo sobre a tecnologia já superada do cinemascope pode ser acessada.
E ele sempre reclamava da projeção fora de foco nas extremidades, o mesmo com o foco errado na parte superior da tela, sendo que os operadores da época usavam os letreiros na parte inferior, como referencia para dar o foco ideal, senão os letreiros ficavam elegíveis.
Como foram realizadas as adaptações das lentes anamórficas?
Que eram duas caixas retangulares estampadas em aço, medindo cerca de: 0,18m X 0,18m X 0,35m de comprimento, pintadas na cor cinza martelado. Eram produzidas nos EUA, da marca Bausch-Lomb. E que já vinham com 4 furos com rosca para possibilitar a colocação de 4 hastes cilíndrica cromadas de cerca de 0,30m de comprimento cada. No lado que ficava defronte as objetivas já existentes nos projetores.
Sendo as duas superiores dotadas de um engate rápido manual, e eram engatadas em 2 parafusos com cabeça sextavada que foram rosqueados na parte frontal dos projetores e acima das objetivas. As duas hastes inferiores eram providas de cabeças sextavadas e só ficavam encostadas na carcaça dos projetores. Bastaram realizar 4 furos e passar a tarraxa para se fazerem as roscas, e fixar as objetivas, o que deu trabalho foi posicionar os furos, pois foram posicionados na base do erro e acerto, mas felizmente foram acertados de primeira. Palpite é que não faltou. Ironias do destino: as lanternas velhas só utilizavam eletrodos novinhos em folha, as lanternas novas queimaram durante muito tempo àqueles tocos que estavam guardados nas caixas debaixo da bancada. E como eram econômicas as novas lanternas, consumiam muito lentamente os tocos, e produziam uma iluminação com maior intensidade tornando a projeção mais viva, e avançavam automaticamente, sendo que só muito esporadicamente era necessário um leve retoque na manopla de um dos eletrodos. O que infelizmente provocou a demissão de um dos operadores. Pois com a atualização dos projetores, foram adaptados trilhos na parede na direção das janelas espias e colocados nestes trilhos um sistema de portinhola corrediça. Quando se abria para o projetor 1, fechava o projetor 2, o comando era dado por um tubo metálico do tipo conduíte rígido no sentido do comprimento da parede, que interligava as duas portinholas.
Com o novo sistema, nunca mais aconteceram barbeiragens do tipo estar os dois projetores projetando simultaneamente. E que era motivo de vaias e apupos da plateia. Outro motivo de vaias era quando o filme projetado era velho e muito remendado e por esse motivo a imagem saia do enquadramento correto, geralmente encobrindo o letreiro com a tradução do texto do filme. Sendo que esta atualização foi executada pelo técnico João Caputo, que era um funcionário antigo do Cine Ópera, tendo começado como Operador e que chegou a ser um tipo de curinga. Durante uma boa temporada foi o gerente do Cine Guarani, uma ocasião, era um domingo, havia 2 sessões de matinê e 1 sessão noturna, começou um problema no som no meio da 1ª sessão da matinê, e foi se intensificando. O que ocorria era que o som do projetor 1 saia recortado, consegui diagnosticar que o defeito estava entre a unidade leitora e o pré-amplificador, pois invertendo o sinal nos amplificadores, o som continuava saindo recortado, poderia ser um defeito na unidade leitora ou no pré-amplificador, poderia ter invertido as válvulas excitadoras dos pré-amplificadores, que teria matado a charada, mas por inexperiência não ousei efetuar a troca.
Chamado o João, ele chegou antes do inicio da sessão das 20:00 horas, ele só perguntou em qual dos projetores era o problema, foi direto na dita cuja válvula, tirou do soquete e jogou no chão com força, voou cacos de vidro para tudo quanto era lado, pediu a caixa de válvulas sobressalentes, pegou uma 12AX7 novinha e encaixou no soquete e pediu para que a sessão começasse com aquele projetor e desceu para bater papo. Iniciada a sessão, com o som perfeito de sempre. Os anos de experiência, nessa hora fez a diferença!
Estava no ponto final do ônibus, na Praça Rui Barbosa, lá pelas 12:30min horas, voltando para casa após uma manhã em sala de aula. Quando parou em frente ao ponto um Chevrolet 1937 preto, quatro portas. E o motorista fez sinal para mim. Vamos, estou indo para o Portão, era Ismail Macedo, um dos sócios proprietários do Cine Guarani. Sentei no banco da frente, e mais três pessoas sentaram no banco de traz, o Ismail que eu conhecia, sempre de terno e gravata e era de cumprimentar só mexendo a cabeça, sempre com a cara fechada, mas era só tipo. Quando conversava descontraído era outra pessoa. No meio da conversa perguntou para mim se o Sauro era meu tio. Respondi que era tio e padrinho, aí eu perguntei de onde ele conhecia o Sauro, e ele contou das sessões de cinema que eram realizadas na casa de minha avó, ele lembrava de vários tios e tias inclusive de minha mãe. Era um dos amigos de infância que não perdia as matinês do Sauro. Mundo pequeno, não?
Ocasionalmente vinham cópias de filmes com mal estado de conservação o que obrigava aos operadores efetuarem uma revisão minuciosa. E que consistia em bobinar e rebobinar todas as partes do filme, para isso, ficava-se com a mão direita manivelando e com os dedos da mão esquerda sentindo o estado físico dos orifícios laterais, do filme. Caso os mesmos apresentassem falhas, parava a manivela, retirava-se o pedaço do filme estragado, fazia-se uma emenda caprichada e dava continuidade ao rê-bobinado. Chegando ao final do rolo, fazia a inversão dos rolos e rê-enrolava. O operador Ivan Taborda é que geralmente fazia essas revisões, no período da manhã. Ele vinha de bicicleta, e trajando invariavelmente bombachas e um chapéu de feltro preto típico de gaúcho. Era bem gozado, um gaúcho dando uma panca e  o pingo era uma bicicleta.
O domingo em que Cauby Peixoto veio cantar no Cine Guarani! Com lotação esgotada, Cauby foi recepcionado pelas fãs que ofereceram diversos buquês de rosas. Cantou cerca de vinte canções sendo a maioria do seu repertório de sucessos com música em play-back.
Com o advento da televisão em Curitiba as empresas exibidoras começaram a sentir a ausência dos frequentadores, uma das saídas foi a realização de concursos, o primeiro foi marcante, a juventude frequentadora retornou em peso as sessões, só se falava no concurso, que consistia para cada ingresso um cupom onde constavam três nomes de filme de sucesso e que ainda não tinha sido apresentado, e que em uma data predeterminada seriam sorteados sete cupons com a resposta correta e que dariam direito a um ingresso permanente com uma validade de 12 meses. Sendo que na sala de espera foi montado um grande cartaz triplo com fotos dos três filmes, e embaixo ficavam as três grandes latas redondas própria para transporte de filmes, devidamente lacradas. Ninguém conseguiu explicar o motivo dos lacres. Eu desconfiava que as latas estivessem sem os filmes, mas sim com algo pesado para dar a impressão de que os filmes lá estivessem. Os meus amigos achavam que eu sabia qual o era o filme que seria exibido, mas estavam enganados.
Comecei a frequentar o cinema antes da hora do inicio da seção, ainda era um adolescente,
Fiz primeiramente amizade com o Rubens, o gerente, após com o Jipe, não com a intenção de ingressar gratuitamente no cinema, mas sim conhecer toda a maquinaria em detalhes. Quando não estava na escola ou em casa estudando, lá estava eu no cinema. Rubens gostava de pintar as suas placas com a propaganda dos filmes, na sala de espera, pois como as placas eram afixadas acima das portas de vidro e eram de grande tamanho, ficava mais fácil pintar ali mesmo. Para tanto pegavas os dois sofás pequenos servindo de cavalete e apoiava neles as placas e com uma ripinha redonda tendo em ambos os extremos uma pequena bola de pano enrolada. Para não sujar de tinta o papel ou tecido quando apoiava o pincel para pintar as letras, diretamente sem auxilio de um mísero lápis. As tintas ele mesmo as preparava, em um pequeno fogareiro elétrico derretia a cola de ossos, misturava com os corantes em pó e o resultado final era excelente. O mesmo acontecia com a cola de goma que era utilizada, ali vim a conhecer o segredo de se misturar soda cáustica a cola. Certa vez ele confeccionou um grande cartaz em madeira compensada, mesmo assim muito pesado. Nele pintou uns vinte nomes de filmes com os nomes dos os astros que atuavam, e as datas de exibição, e que foi afixado em um lote de terreno nas proximidades do cinema, e que contou com a minha colaboração para carregar e ajudar a pregar dito cujo imenso cartaz.
Certa manhã de verão; bem cedo, estando em férias escolares, resolvi ir ao Cine Guarani, só para passar o tempo. Lá chegando me deparei com um senhor querendo empurrar uma grande moto escadaria acima. Porém a moto era muito pesada e eram muitos os degraus, ele só não conseguiria empurra-la. Aí fui ao seu auxilio, chegando lá em cima começamos a conversar, papo vai papo vem, fiquei sabendo que ele era o Waldomiro Jensen, para os amigos, Miro o Técnico Eletrônico do Cinema e que ali estava para efetuar a troca das lanternas de projeção. Troca da tela, para tela de Cinemascope, acrescentar seis caixas de som laterais, três de cada lado da sala. Adaptação de lentes anamórficas para possibilitar passar filmes em Panavision ou Cinemascope. Quando chegaram os irmãos Francisco (Chico), Augusto e Ivan Taborda, que era operador de projeção, sendo Chico o novo gerente e Augusto era o novo operador de projeção, ambos eram de longa data meus amigos, pois ambos tinham sido guardas-civis do cinema. Naqueles tempos em todos os cinemas e teatros de Curitiba e acredito que em todo o Brasil, quem mantinha a ordem e os bons costumes era a corporação da Guarda Civil. Para ajudarem o Miro nas modificações, abriram o cinema, e entraram. Eu para não me intrometer fiquei meio de lado, quando o Miro me chamou, vem João, vem ver as novas lanternas, não estava acreditando, tanta sorte de uma só vez, conhecer as novas lanternas de projeção e participar de todas aquelas mudanças. Com este fato iniciou-se uma grande amizade, que durou até o desaparecimento de Miro.
Subimos, lá chegando o Miro que gostava de contar tudo o que ia fazer, como se eu fosse seu velho amigo e também técnico. Mostrou os projetores e começou a abrir as duas grandes caixas de madeira que continham as lanternas novinhas em folha, recém chegadas de São Paulo, eu também participei desta abertura, após a desmontagem das caixas, ficaram a mostra no chão da grande cabine as duas novas lanternas, eram enormes comparando com as que estavam em uso. Eram de cor cinza claro, a marca eu não tenho muita certeza, mas acho que era Triumph, certeza eu tenho que elas eram fabricadas em São Paulo. Possuíam avanço automático de eletrodos e eram dotados de um espelho parabólico com diâmetro de 16 polegadas e duas tampas que se abriam de ambos os lados das lanternas, em sentido para cima. Se bem que isto não era mais modernização, pois naquela época já, estavam em uso às lanternas com lâmpadas de xenon, que proporcionavam muito mais luminosidade e com uma grande economia de energia elétrica. As pequenas lanternas antigas em uso para ficarem com os seus eixos alinhados com a objetiva. Usavam grandes calços, que eram 2 pedaços de viga de pinho medindo aproximadamente 5x5 polegadas, pintadas de preto. Que eram colocadas transversalmente no chassi dos projetores, com as novas lanternas, não mais foram utilizados os grandes calços. Após a fixação das lanternas, o que deu trabalho foi a adaptação das chaminés. Após, foram feitos 2 furos com diâmetro de 12 milímetros um em cima e outro em baixo dos pés que eram de ferro fundido dos projetores que serviu para a passagem dos cabos blindados dos novos pré-amplificadores que foram construídos pelo próprio técnico Miro.
A Tela ficava atrás de uma grande cortina verde, que era operada manualmente. Atrás da tela que era esticada numa grande estrutura de madeira munida de rodas, ficava uma enorme caixa de som com uma altura de cerca de 1,60 m, com alto falantes do tipo, woofer, mid-range e cornetas. Do mesmo lado em que estava o exaustor, ficava a oficina de pintura dos cartazes e uma pequena marcenaria com uma serra tico-tico elétrica que era utilizada para confecção das letras em madeira compensada. Que eram utilizadas na grande marquise, com o nome do filme do dia. O nome do filme era trocado 3 vezes por semana, pois terça e quarta-feira era um filme, quinta, sexta-feira e sábado era outro, domingo e segunda-feira outro. Esta tarefa também era executada pelo Jipe.
O teto e as laterais acima das paredes da sala de projeção eram recobertas por placas retangulares que mediam em média 0,50 m por 1,20m e com uma espessura de cerca de 15 mm. Construídas com longos fios de cepilho de madeiras prensadas e cimento e pintadas que eram presas em uma estrutura leve metálica que por sua vez era afixada em uma grande estrutura de madeira. Que era recoberta por grandes telhas de cimento amianto. As placas serviam de isolamento térmico e acústico ao mesmo tempo. E nas paredes laterais de ambos os lados do salão, havia em espaços regulares 4 colunas recobertas de madeira compensada, envernizadas. Posteriormente nessas colunas foram fixadas as 8 caixas acústicas que reproduziam um pseudo Surround, sendo muito raramente utilizadas, sendo só usadas em passagens de sons só de música quando o filme exibido era um musical, eram ligados e desligados manualmente diretamente no amplificador que estava em uso no momento.
Subindo as escadarias que ia a sala de projeção que era dividida com um quarto e um banheiro no lado oposto a escadaria, era o dormitório do Jipe até ele se casar.
No final da escada havia um grande quadro elétrico em granito, com muitas chaves elétricas do tipo faca e medidores de tensão e corrente. Na parede da frente havia um grande rack elétrico com divisões e próximo afixado ao piso cimentado o gerador de corrente continua, que alimentava os 2 projetores a arco voltaico. Nessa mesma parede havia uma mesa longa com uma prateleira debaixo, onde eram guardadas as latas com as partes dos filmes e também tinha 2 grandes caixas de madeira do tipo de caixa de tomate abarrotadas com grandes tocos de eletrodos que pareciam imprestáveis.
E nessa mesa ficava o rebobinador de filmes e o aparelho de cortar, emendar e prensar filmes, quando o mesmo arrebentava, ou para emendar as partes quando era filme de rolos de pequeno diâmetro. No lado oposto ficavam os 2 projetores sendo que eles já tinham sido restaurados ou depenados. Pois as lanternas já não eram as originais, eram muito pequenas pelo tamanho do chassi de ferro fundido, e os espelhos parabólicos com um diâmetro muito pequeno, pareciam ser lanternas para projetores de 16 ou 24 mm. E os mecanismos de aproximação dos eletrodos completamente manuais, o que obrigava aos operadores ficarem permanentemente avançando os eletrodos senão a projeção era prejudicada, escurecendo a medida que eles queimavam, se afastavam e quando isso acontecia à plateia gritava furiosamente. E consumiam eletrodos com uma voracidade inacreditável, sendo que pelo sistema utilizado de fixação dos mesmos, eram trocados quando ainda estavam pouco além da metade de seu comprimento. Também as unidades leitoras para a captação do som do filme, não eram mais as originais, estando em uso às foto células da marca Westrex americana e as pré-amplificadoras eram RCA também americana.
Originalmente os projetores de procedência alemã; eram da marca ERNEMANN ZEISS IKON com lentes ZEISS, provavelmente do modelo: VII com sistema de captação do som TOBIS KLANGFILM fabricados a partir do ano de 1934 do século XX. Pois só a partir deste ano é que foram construídos pela empresa alemã projetores sonoros. Precisos mecanicamente, e com técnica ótica acurada.
Laqueados na cor negra, e as partes internas que se abriam eram na cor creme. Com uma grande chaminé cada; que ligava o projetor ao teto da sala As 4 janelas sendo 2 espias para os operadores e 2 por onde passava a luz projetada eram protegidas por vidros de cristal afixados diretos na argamassa, em caso de quebra, tinha que se quebrar o revestimento de argamassa para se efetuar a troca. Entre o segundo projetor e a parede do dormitório Havia uma janela de 0,50m x 0,50m que se abria para a sala de projeção. Ao lado antes da janela ficava o rack dos 2 amplificadores de som valvulados marca RCA americanos. No outro lado antes do projetor 1 tinha um pequeno rack com toca-discos e controles de som para a música ambiente, para o antes e o após seções. Sendo que o projeto técnico tanto elétrico como eletrônico foram de autoria do Senhor Waldomiro Jensen, para os amigos, Miro um grande técnico eletrônico, que me ensinou muito sobre eletrônica. Infelizmente faleceu muito prematuramente vitimado por um infeliz acidente. Em um final de semana foi com a família e outros parentes fazer um picnic, foram em um caminhão, sendo que ao regressarem caiu de cabeça para baixo da carroceria do caminhão ao tentar descer. Sofrendo fraturas no crânio.
Creio que era de um filho arquiteto do Prof. Carneiro foi construído em um terreno alugado, sendo que o proprietário residia em uma casa ao lado e nos fundos do cinema havia outra pequena casa, onde morava o Rubens, não lembro mais o seu sobrenome com sua família. Catarinense de Blumenau  e ótimo letrista, inigualável. Pode existir igual, melhor duvido. Suas faixas em pano ou papel ou mesmo em Outdoor ficaram marcadas na memória. Era também o bilheteiro e gerente. Quando veio para o Cine Guarani também trouxe o seu auxiliar, também catarinense que tinha o apelido certo para o homem certo: Jipe, não consigo recordar o seu nome inteiro; lembro que seu primeiro nome era Otacílio, mas ele não gostava que o chamassem por Otacílio, só por Jipe. Ele era muito parecido fisicamente com o Grande Otelo. Rubens e Jipe já trabalhavam em cinema lá em Blumenau, Santa Catarina.
Sempre com chapéu de feltro na cabeça e a sua famosa bicicleta que era munida de uma carreta com carroceria de aço e com duas pequenas rodas também raiadas, com um engate por meio de porca e parafuso. Onde invariavelmente três a quatro vezes por semana levava e trazia as latas contendo os filmes, jornais, trailer e sabe-se lá o que mais. Do Portão ao Centro a distancia é de cerca de sete quilômetros. Também era o Porteiro.
Voltando a arquitetura do Cine Guarani, era construído em um terreno bem elevado em referencia a Avenida República Argentina. O acesso era através de uma escadaria com cerca de doze degraus e que se estendia em quase a totalidade da frente do cinema, com um pequeno muro em cada canto tudo em pedra retangular de cor cinza, como também o piso do recuo obrigatório. Aí vinha a construção propriamente dita. Mais um degrau em toda a extensão do imóvel. Degrau revestido em cimento colorido com pedrinhas brancas imitando mármore com quatro grandes portas de aço, sendo duas para o bar, que tinha uma entrada em madeira com vitrinas nos dois lados e porta dupla de vai e vem ao estilo “Saloon”. As outras duas portas davam para um hall onde ficava a bilheteria e os cartazes que eram quatro quadros revestidos de feltro verde medindo aproximadamente 1,20m de largura por 1,50m de altura.. Onde eram pregadas com tachinhas as fotografias sempre em branco e preto e ao lado um cartaz impresso colorido. Que eram impressos nos paises de origem das empresas Cinematográficas, bastante tempo depois o governo brasileiro criou uma lei que obrigava as Cias. estrangeiras imprimirem aqui no Brasil estes cartazes, em cima era colocada às palavras com letras recortadas em compensado e pintadas de preto: HOJE, BREVE ou AMANHÃ.
O hall que era separado da sala de espera por 4 portas de madeira envidraçadas. Com cerca de 2,50 metros de altura, acima era fechada por venezianas que chegavam ao teto, sendo de cerca de 5,00 m a altura do pé direito, o teto era laje e que servia de piso para cabine de projeção.
Na sala de espera no lado esquerdo havia 2 portas, uma em cada canto, a primeira era à entrada da bilheteria e que dava acesso a cabine de projeção por uma alta e larga escada em cimento queimado com vermelhão, sem corrimão. A outra porta dava acesso ao toalete feminino. Entre as duas portas, tinha um sofá de três lugares com um cinzeiro de pedestal de cada lado e com uma poltrona individual de cada lado, ao centro uma mesinha. Isto era toda a sala de espera. Não esquecendo do quadro futurístico pendurado na parede acima do sofá.
No lado direito havia uma porta que era à entrada do toalete masculino, e duas meias portas interligadas, que eram chaveadas por ambos os lado, e quando abertas eram a bombonière, quando não era hora de funcionamento do cinema, estas meias portas permaneciam fechadas. Porém o bar ficava aberto com acesso pela entrada frontal.
Após as portas dos banheiros havia uma escada com cerca de três degraus no comprimento da sala, onde tinha duas grandes portas venezianas de correr. Com uma grande cortina verde também de correr, para vedar a entrada de luz. Após vinha o salão do cinema, sendo que em ambas as laterais havia uma porta dupla também em veneziana e cortinas que dava acesso a corredores laterais de ambos os lados que davam acesso à parte frontal do cinema, eram as portas de emergência. A sala era com piso de tacos com 720 poltronas da marca Cimo sem estofamento. O piso era em declive até cerca de10 metro do palco, aí vinha um aclive até o palco, sendo que no canto esquerdo havia uma porta com cortina que dava acesso ao palco. No canto direito havia um enorme exaustor, muito ruidoso quando ligado. Quem se sentava nesse aclive ao término da sessão saia com o pescoço doendo.
A sétima arte (como se falava na minha juventude) sempre me exerceu um grande fascínio. O cinema sempre esteve presente em minha família. Os meus pais eram assíduos frequentadores e eu desde muito pequeno já ia aos cinemas com eles, isso antes de existir a censura para menores de 14 anos nas sessões noturnas Meus avós maternos incentivavam os filhos para irem aos cinemas, teatros, etc. Disso resultaram que o filho Sauro, que era o que tinha espírito inventivo principiou com as suas sessões de cinema em casa, adquiriu sabe-se lá aonde um projetor de 35 mm, mudo. Conseguiu vários pedaços, jornais, partes e mesmo pequenos filmes completos, todos mudos, e de todas as procedências, predominando Alemanha e França aos quais emendava pedaços de filmes de celuloide transparente onde ele escrevia o texto que ele imaginava que os personagens estivessem dialogando. Disso nasceu um cinema no sótão ou no rancho, o sótão era uma mistura de dormitório, sala de estudos, atelier de artes e sabe-se lá o que mais. O rancho era um galpão de madeira construído rente ao chão sem assoalho e com telhado alto ao estilo europeu, suas paredes eram acinzentadas por falta de caiação e que servia como oficina e depósito para o meu avô. Aos domingos todos os amigos e conhecidos de meu tio lá estavam para a clássica sessão de cinema. E também projetava outras bitolas de fitas, não sei qual artimanha ele fazia no projetor para mudar as bitolas dos filmes. Sendo que na última reforma desse sótão. Realizada por meu pai, tio Homero, vovô Davide e eu como ajudante, descobrimos um monte desses filmes guardados em esconderijo secreto do sótão, esconderijos é que não faltavam apesar da reforma ser total. Ainda hoje tenho cisma que ficaram alguns super secretos. Sendo que meu avô desejou ficar com os filmes, não imaginando o que ele queria com os ditos cujos, aceitamos, também não adiantava argumentar a casa era dele, ele mandava e pronto. O que me deu uma “baita” raiva foi o destino final dos ditos filmes. Passado uns dias, lá chegando para continuar a reforma, vi no tanque de lavar roupa todos os filmes mergulhados na água que estava misturada sabe-se lá com o que. E tinha a finalidade de liberar a prata depositada nos filmes de celuloide. Os tempos eram difíceis e meu avô sempre “durango”, pois lá, quem controlava as finanças era minha avó com mãos de ferro. Entretanto meu avô, já tinha percebido que daria um trabalho danado para obter a tal prata daqueles filmes. Foi nessa hora que tive a brilhante ideia, e pedi a ele alguns rolos que ainda não tinham sido destruídos, desses deu para aproveitar dois pequenos rolos um em 35 mm e outro em 28 mm que ainda hoje guardo em lugar bastante seguro, pois podem se autodestruir pegando fogo espontaneamente. E nesse contexto quero inserir a figura de um dos personagens desta história: Ismail Macedo que era um dos espectadores assíduos do cinema do Sáuro, que nunca deixou de cobrar ingresso. Como o próprio Ismail narrou, muitos anos depois. Hoje, sei que Ismail após concluir o curso de Contabilidade, foi trabalhar como Contador para o Prof. David Carneiro. Que era o proprietário do Cine Ópera, e outros cinemas importantes da cidade, entre eles o Cine Guarani localizado à Avenida República Argentina com a Rua Engenheiro Niepce da Silva no bairro do Portão. O cinema de minha juventude, com um projeto arquitetônico bastante simples.